terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Queria pedir a todas as pessoas que já viram a minha nova fic, que, caso possam, a divulguem, pois eu não sei como o fazer.
Um muito obrigado a todos.
Maria

domingo, 18 de dezembro de 2011

Love & some fashion

Olá a todos!
O capítulo da minha nova fic já foi editado e está pronto.
Deixo aqui o link para o visitarem o mais cedo que conseguirem. Queria pedir-vos também que o divulgassem caso fosse possível.
http://lovesomefashion.blogspot.com/2011/12/i.htmlMuito obrigado a todos. Conto com vocês.
Maria

domingo, 27 de novembro de 2011

Comunicado

Olá a todos. 
Primeiro de tudo queria agradecer ao número crescente de seguidores.
Depois queria pedir desculpa pela demora por um novo capítulo. A verdade é que tenho pensado e tomei a decisão de acabar com a fic pois não arranjo qualquer inspiração para o tema e quando nós próprios não estamos a gostar do que escrevemos é muito difícil que os leitores gostem. 

No entanto, iniciei uma nova história, com apenas uma personagem principal, e já tenho escrito alguns capítulos, mais organizados e estou muito satisfeita com o que estou a escrever. Não vou publica-la para já mas espero que os leitores que seguiam esta história possam aguardar mais um pouco e seguir a próxima, que eu espero conseguir cativa-los muito mais. 

Quero pedir desculpa a todos os leitores que gostavam e seguiam a história mas espero sinceramente que possam seguir a outra com a mesma atenção com que seguiam esta. 

Postarei o primeiro capítulo perto do Natal, um pouco antes se for possível. Deixarei aqui num post o novo blog que criarei entretanto. 


Agradeço a compreensão :)
Maria

domingo, 30 de outubro de 2011

Capítulo 10 - Véspera de Natal






Emma
- Feliz Natal! - envolvi Heidi num abraço forte e sentido, com a bela Times Square como pano de fundo, coberta por um imenso manto de neve.

- Feliz Natal!!! - ela parecia-me super entusiasmada, tendo em conta que depois de uma conversa longa com o pai, conseguiu convence-lo a aceitar Nate lá em casa para a ceia da véspera de Natal - Estou tão contente! 

- Estou a ver que sim! - iniciamos caminho pela avenida abaixo, onde Heidi pretendia ir aos armazéns do Harrod's, que tinham aberto recentemente, para comprar as últimas prendas de Natal - Há novidades?

- Não, só me falta falar com o Nate sobre hoje à noite. Espero mesmo que ele aceite, Emma - um tom de preocupação e receio sobressaiu na sua voz - Queria mesmo que a nossa família voltasse ao que era.

- Ohhh não te preocupes com isso - puxei-a para mim, em tom de brincadeira, tentando que a sua felicidade sobressaísse em relação às suas preocupações - Vamos aproveitar as compras! 

Ela sorriu, mostrando uma paz de espírito que eu já não via há algum tempo. Tinha passado por tempos conturbados depois da descoberta da tragédia com Dwayne, na qual ela tinha estado envolvida, mas depois de muitas entrevistas e de muitos comunicados para a imprensa, o assunto estava agora a começar a cair no esquecimento. Já tinha voltado ao trabalho e tinha agendada para depois do Natal uma grande sessão fotográfica para a revista Elle, assim como uma série de audições para filmes e séries. No entanto, a sua relação com Brad, que até então se tinha mostrado tão cúmplice, estava agora mais fria e distante, não porque ele quisesse, porque insistia constantemente com telefonemas e mensagens para se encontrarem mas sim porque Heidi não tinha esquecido o episódio do carro, onde o viu aos beijos com outra mulher e, apesar de estar sempre a dizer que sabia que o que eles tinham era uma relação estritamente profissional eu sabia que aquilo que não passava de um recalcamento de um sentimento que ela já tinha formado mas que teimava em reprimir. 
Passámos um bom bocado naquela manhã fria de 24 de Dezembro. Ela comprou o resto dos presentes que faltavam, coisas simples mas de muito bom gosto, para Leya, Nick e Agnés, de quem tinha ficado grande amiga e confidente, apesar da relação tremida que tinha com o seu irmão. Voltámos para trás num clima de grande nostalgia natalícia, falando de como estávamos ansiosas pelo jantar em família e pela entrega dos presentes, até Heidi mudar abruptamente o tema de conversa.


- Soube que nunca mais falaste com o Nate.


Limitei-me a anuir, timidamente, pois não queria nada falar sobre aquele assunto mais do que encerrado.


- Eu já falei com ele, Emma. Disse-lhe que a ideia foi minha e que tu te recusaste veemente a faze-lo e que só depois de te andar a chatear incessantemente é que tu aceitaste. 

- De que é que adianta isso, Heidi? Nunca devia te-lo aceitado - um remorso tinha crescido dentro de mim e a cada dia aumentava mais - Percebo perfeitamente que tenha ficado chateado e que não queira falar mais comigo.

- Ele gosta de ti, Emma! - Heidi pos-se à minha frente, interceptando-me o caminho e obrigando-me a parar - Tenho pena que ele só tenha percebido isso depois da Katherine ter ido embora. Mas acredita que nada me faria mais feliz do que vê-lo com a minha melhor amiga. 

- Heidi... - tentei desviar-me, mas Heidi continuou a interceptar-me o caminho - Não quero falar sobre isso! 


- Vais continuar a fugir é? - agora a voz dela tinha acentuado o tom de repreensão - Devias ir falar com ele, com mais calma. Ele pode ter muitos defeitos mas ele é a pessoa mais compreensiva que algum dia irás conhecer. 


Anuí mais uma vez, quase que implorando para que ela me deixasse em paz com aquela conversa insuportável. Até porque o que sentia em relação a ele estava baralhado, confuso e eu mesma não conseguia decifrar os meus próprios sentimentos. Continuamos a andar até chegarmos ao carro de Heidi, que me iria levar a casa.


- Devias passar por casa do Nate, ele tem um presente para ti - ela fez cara de troça, mostrando-se extremamente divertida com a situação.

- Para mim? - Podia sentir-me surpreendida mas o que me veio logo à cabeça foi o facto de não ter comprado nada para ele, tendo em conta que depois do dia 15 nunca mais nos tínhamos falado - Para mim? Porque haveria ele de comprar uma prenda para mim se nós nem sequer nos falamos?


- Olha e que tal irmos perguntar-lhe? 


No cruzamento que dava acesso a Murray Hill, Heidi virou no sentido contrário, seguindo caminho para a ponte, o único caminho para Brooklyn. 


- Heidi! - tentei intercepta-la, jogando as mãos ao volante num instinto cobarde de fugir ao problema, disposta a que ela se assustasse e reconsiderasse no caminho a seguir. No entanto, ela não se deixou intimidar, dando-me um leve empurrão e gritando alto para que parasse, acabando por rir-se quando acabei por encostar-me no meu canto, resignada mas muito, muito zangada.


- Hoje é dia de penitência! - ela olhou para mim por breves segundos, sorrindo com ar de gozo, voltando depois a colocar os olhos na estrada.


Segui o caminho em silêncio, ignorando as indirectas de Heidi que não parava de cantar e assobiar, como se aquilo lhe estivesse a dar um prazer sem precedentes. Parámos em frente ao prédio dele e apressei-me a sair do carro, não aguentando nem mais um segundo levar com ela naquele estado de implicação. Caminhei até ao passeio, olhando para ela, que me acenava pelo espelho retrovisor, com aquele ar de maluca malévola que tão bem conhecia mas que ela raramente mostrava. Ela arrancou com o carro, não me dando sequer oportunidade de me aproximar, abrindo o vidro e gesticulando um breve adeus. Fiquei completamente estupefacta com o que ela tinha acabado de fazer e o meu cérebro demorou uns segundos a assimilar que ela me tinha deixado completamente sozinha em Brooklyn, com um frio de morte, à porta daquele que eu considerava ser o meu maior problema desde que tinha chegado a Nova Iorque. Encostei-me à porta do prédio e tentei ligar-lhe vezes e vezes sem conta, mas ela nunca me atendia a chamada. Preparava-me para chamar um táxi quando a porta se abriu por trás de mim e uma coisa pequenina, num emaranhado de cores que eu não consegui distinguir, passou por trás das minhas pernas e se deitou à minha frente numa pose brincalhona, como que pedindo por diversão. Essa coisinha pequenina e peluda que eu percebi ser um cão, era um Yorkshire Terrier, uma das minhas raças preferidas, cachorrinho e completamente perdido de frio.
No entanto, parecia estar penteado e trazia uma coleira, pelo que considerei ser de alguém. Peguei nele ao colo, aconchegando-o e sujeitando-me a umas lambidelas suaves mas pegajosas e encaminhei-me para dentro do prédio, esperando encontrar o seu dono que provavelmente ia leva-lo a passear mas que deveria ter voltado para trás para buscar qualquer coisa. Fechei a porta atrás de mim, de forma a que não fizesse tanta corrente de ar e quase morri petrificada quando me deparei com Nate a descer as escadas calmamente, com uma trela na mão. Tentei voltar para trás pois ele ainda não me tinha visto mas foi tarde de mais.

- Emma? - a voz dele não pareceu surpreendida por me ver ali. Calculei então que aquilo tinha sido um plano engendrado por Heidi.


Rodei sobre mim de forma a encara-lo e esbocei o meu sorriso mais cobarde quando me dirigi a ele.


- Nate!! Que surpresa! 


Ele desceu os últimos degraus, com a trela que tinha na sua mão a balançar bruscamente e assim que chegou perto de mim, esboçou um sorriso tranquilo, lívido, que eu conhecia mas que já não via há imenso tempo. Ele ficou a olhar-me, percorrendo cada recanto da minha cara com um olhar meigo e foi-se aproximando cada vez mais, até eu sentir a sua respiração pesada na minha boca. Tentei afastar-me, apertando com mais força aquela coisinha pequenina e fofa nos meus braços mas a sua mão precipitou-se em direcção à parte de trás da minha cabeça, deslizando até se encaixar no meu pescoço, puxando-me para si. Senti uns lábios ásperos, secos e frios contra os meus e nesse instante senti umas borboletas na barriga, que não paravam de se agitar por todo o meu corpo e foi essa sensação de prazer, de bem-estar que me deixaram levar. Ele procurou uma resposta minha, entalando-me o lábio superior, antes de procurar a minha língua que eu timidamente tentava esconder mas que acabei por não conseguir. O movimento calmo das nossas línguas ainda tímidas por estarem em território desconhecido cessou quando Nate se afastou, dando-me um leve beijo nos lábios, seguindo-se outro e depois outro. Chegou uma altura em que eu já não queria acabar com aquilo, ali, no hall de entrada daquele prédio poeirento e velho, com aquele cão que eu não sabia ser dele mas que tudo indicava que sim, que me entreguei por completo à paixão, trazendo ao de cima os sentimentos que tanto me atormentavam e que eu teimava em reprimir, pois nunca achei ser possível apaixonar-me por alguém em tão pouco tempo e então tudo estava baralhado dentro do meu consciente. Pousei as minhas mãos na sua cintura, apertando levemente a sua camisa, enquanto nos voltávamos a beijar carinhosamente.
Com esse mesmo carinho, Nate separou a sua boca da minha, desviando-me os cabelos da cara e prendendo-os atrás da orelha, beijando-me a testa em seguida. Não consegui abrir os olhos logo de seguida, perdida em pensamentos, ainda a assimilar o que tinha acabado de acontecer ali. Não era nada que eu não quisesse mas seria certo? Seria mesmo aquilo que queria? Uma coisa era certa e disso eu tinha a certeza absoluta: aquele tinha sido o melhor primeiro beijo que alguma vez me tinham dado!


- Feliz Natal! - a voz dele saiu baixa, quase como um sussurro.


Abri os olhos, conseguindo encara-lo, mas estava tão nervosa e envergonhada que os meus olhos disparavam em todas as direcções só para não ter de olha-lo directamente.
Ele passou-me a trela para a mão e sorriu, nervosamente. 

- O que é isto? - perguntei, a tremer por todos os lados. Esta era sempre a pior parte, não saber o que dizer depois de acontecer o inevitável. 


- É o teu presente de Natal. Não gostaste?


Olhei para o bichinho pequenino que carregava no meu colo. 


- Nate! És doido! - esbocei um sorriso sincero - Como sabias?


- Como sabia que gostavas desses cães? Começa por H. 


Ambos nos rimos, tal a obeviedade da resposta. Heidi, claro.


- Eu não comprei nada para ti - desta vez não o encarei, pois aquilo era demasiado vergonhoso. Senti-me mesmo mal naquele momento, pelo facto de ele ter tido um gesto tão querido para comigo e eu nem sequer ter considerado a hipótese de lhe oferecer um presente. Senti-me pior ainda depois do que tinha acabado de acontecer.


Ele encolheu os ombros.


- Como é óbvio não te ofereci isso à espera de ter algo em troca. Além disso eu já tive o teu presente de Natal.


Ele sorriu, acariciando-me a cara e aproximando-se novamente. Respirei fundo, pronta para entrar novamente no paraíso mas não consegui conter-me e acabei por desabafar aquilo que estava a sentir. 


- Nate! - ele parou a escassos centímetros dos meus lábios, visivelmente preocupado, tentando encontrar o meu olhar, o que se revelou tarefa difícil porque aquele foi um momento em que não consegui encara-lo - O que é que acabou de acontecer aqui? 


Dei uns passos para trás disposta a manter a distância de segurança, antes que o meu instinto me lançasse nos braços dele novamente. E confesso que não havia outra coisa que quisesse mais...


***


Nate
Ela afastou-se de mim, deixando-me completamente à nora. Não sabia o que esperar dela, não sabia se ela queria o mesmo que eu ou se sequer sentia o mesmo que eu. A verdade é que já não me sentia assim desde que conhecera Katherine e embora Katherine tivesse sido muito importante para mim e de ainda ser personagem influenciadora na minha vida, havia qualquer coisa em Emma que me fazia esperar muito mais, muito melhor. Olhei para ela, completamente perdido em pensamentos, que lutavam entre si à procura daquele que mais se adequava à situação. 


- Emma... Sinceramente não sei o que dizer - deixei sair um riso nervoso - Achei que não fosse preciso responder a essa pergunta. 


- Podes levar-me a casa? 


"Tínhamos acabado de nos beijar e tudo o que ela dizia era se a podia levar a casa?!", pensei, deixando escapar um sorriso irónico. Encolhi os ombros, num misto de desilusão e angústia por não saber o que ia dentro dela e saí porta fora, passando por ela a mil à hora. Ela seguiu-me uns segundos depois, de cabeça baixa, apertando o cão com força, protegendo-o do frio. Entrou no carro e pôs o cão no chão, em frente aos seus pés, enquanto punha o cinto e se ajeitava no banco. 


- Não tenho ar condicionado - disse-lhe, ao vê-la tentando aquecer as mãos.


- Não há problema, eu estou bem.


Seguimos o caminho em silêncio e apenas quando já estávamos na iminência de chegar é que ela puxou conversa.


- Já soube que vais jantar a casa do teu pai... 


- Sim, vou - tentei mostrar desinteresse pois era algo que não me agradava mas a o facto de não querer desapontar Heidi sobrepôs-se à minha verdadeira vontade - Não quero a Heidi se chateie por causa disso.


- Fazes bem - ela esboçou um sorriso quase invisível e tímido, voltando depois a olhar pela janela, remetendo-nos novamente ao silêncio. 


Estacionei o carro em frente ao prédio dela e encostei-me no banco à espera que ela dissesse alguma coisa.


- Obrigado pelo cão Nate! - apenas consegui sorrir - Sempre quis um destes.


- Fui busca-lo ao canil. Se não o tivesse trazido era abatido em dois dias. Comprei-lhe uma coleira nova - peguei no cão ao colo e virei a coleira para ela, mostrando-lhe a inscrição - ele tinha uma, mas já não estava em boas condições. O nome dele é Spiky.


Passei-lhe o cão para os braços e vi-a aperta-lo como se de um bebé se tratasse. Caímos novamente num momento de silêncio, enquanto ela dava voltas e mais voltas ao cão, tentando ganhar tempo.


- Ouve, Nate... - ela olhou para mim pela primeira vez desde que tínhamos saído de Brooklyn - Não quero que penses que sou uma criança por estar a fugir desta forma mas a verdade é que fui completamente apanhada de surpresa. Estava tudo tão baralhado na minha cabeça, a Katherine, a história com a Nick que eu me sinto totalmente atrapalhada e envergonhada neste momento - ela fez uma pausa, tentando organizar o que tinha para me dizer - Eu só tenho medo de não corresponder às expectativas...


Ela olhou-me tímida, como se tivesse dito aquilo a medo. E a verdade é que ela tinha medo, mas isso era totalmente compreensível para mim, tendo em conta que ela perdeu um namorado da maneira mais trágica possível e não se queria envolver emocionalmente para não lhe acontecer a mesma coisa novamente. Agarrei-lhe na mão e puxei-a para mim, abraçando-a carinhosamente e afagando-lhe os cabelos castanhos ásperos, por causa do frio. Ela era tão menina para mim, com aquele olhar doce e sorriso ingénuo que eu era incapaz de fazer algo que a pudesse magoar. Beijei-lhe a face ao de leve e sussurrei-lhe ao ouvido com a voz mais doce que consegui. 


- Tu já as superaste. 


Espero que gostem!
Maria *





 

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Capítulo 9 - "O amor é..." - continuação

Nate
- Estou tão envergonhada com o que vou dizer…
- O que foi? – aquilo estava a deixar-me curioso.
- Eu não tenho namorado.
Aquelas palavras saíram que nem uma flecha em direcção a mim. Não sabia se havia de ficar triste por ela ou feliz por ela estar livre. Mas rapidamente as imagens daquele rapaz assolaram a minha cabeça.
- Não? Então quem era aquele rapaz? – perguntei, confuso, sabendo que havia ali algo que não estava bem contado.
- É o meu primo Nick.
Arregalei os olhos. Agora não estava mesmo a perceber nada.
- Teu primo?
- Sim – ela fez uma pausa, ganhando calma e coragem para continuar – eu soube da mensagem que mandaste à Heidi quando nos viste juntos. Ela combinou connosco que devíamos fingir ser um casal.
Tudo o que me apeteceu naquele momento foi rir, tal a infantilidade do que ela me estava a contar. Então eles tinham armado aquele plano ridículo porque me quiseram afectar? Era tão típico de Heidi, ela, que a toda a hora, engendrava coisas que sabia nunca conseguir levar até ao fim. Mas o que mais me chocou foi o facto de ela ter contado a Emma a minha mensagem, sendo perfeitamente claro naquele momento que ela sabia que não me era indiferente. De maneira nenhuma. Mas se, por um lado, a participação de Heidi já não me incomodava pois sabia bem quem ela era, já o facto de Emma ter alinhado naquilo apenas para me atingir deixou-me profundamente magoado. Tinha-a como um exemplo de pessoa com as qualidades perfeitas, tinha-a como o cérebro e a razão de qualquer situação mais complicada, tendo em conta o seu carácter justo e responsável. Agora aquilo… Punha as minhas mãos no fogo em como ela nunca seria capaz de fazer uma coisa daquelas, mesmo sabendo o quão persistente Heidi poderia ser, por vezes.
- Estás a dizer-me que foi tudo fingimento? – ri-me ironicamente, pois aquilo parecia-me algo surreal.
Ela limitou-se a anuir de cabeça baixa, demonstrando ali a sua vergonha de me encarar.
- Mas que idade é que tu tens? – aquela pergunta saiu-me mais agressiva que aquilo que tinha planeado – Ouve, eu conheço a Heidi, sei como ela é, mas tu? O que tu fizeste foi mil vezes pior do que ela fez. Ela foi o pensador, tu a actriz! O que é que isso faz de ti Emma? – ela preparava-se para se defender mas não a deixei falar – Fizeram isso para me afectar foi? Pois digo-te que me foi completamente indiferente! Bem podiam continuar que isso nunca me ia afectar porque eu não estou apaixonado por ti… - a conversa estava a tomar outras proporções, chegando a altura de negar tudo, desmoralizar, o que era hábito em mim, tendo em conta que quando começava nunca conseguia parar – Eu podia pensar isto de toda a gente, menos de ti! Odeio que me façam de burro…
- Chega!!! – ela conseguiu sobrepor a sua voz à minha, fazendo-me parar. Olhou-me com os olhos secos mas magoados e todas as suas feições estavam agora impenetráveis. Foi-me impossível naquele momento perceber como ela se estava a sentir tirando o facto de saber que estava magoada, o que era normal depois das acusações que tinha feito – Eu já percebi Nate. Podia ficar aqui a argumentar contigo mas tu tens razão. Não há nada que possa dizer.
Abriu a porta do carro, deixando-me o casaco no banco e fechou a porta calmamente.
- Obrigado por me teres trazido.
Foi tudo o que ela disse antes de virar costas e desaparecer ao entrar no seu prédio. Fiquei ali uma meia hora, a pensar no que tinha dito e como sempre acontecia, a remoer-me com o facto de ter sido demasiado exagerado. Tinha por hábito dizer coisas que não queria nem sentia mas naquela acusação, havia algo que não tinha sido o caso: não sei como, nem porquê mas estava irremediavelmente apaixonado por ela. E sempre tinha ouvido dizer que “o amor é um não sei quê, que nasce não sei onde e acaba não sei quando”. Este nasceu em Murray Hill, na noite fria de 15 de Dezembro.


P.S - Peço desculpa pelo facto de o capítulo estar dividido em dois mas aparentemente atingi o máximo de caracteres.
Espero que gostem.
Maria *

Capítulo 9 - "O amor é..."

Heidi
Senti como se uma faca se tivesse cravado no meu coração. Um medo crescente consumiu-me e a minha visão começou a ficar turva devido ao meu estado de choque. Tinham sido cinco anos de angústia, de medo e de repreensão e não havia uma única noite em que não pensasse naquele trágico dia de 10 de Abril. Desencostei-me da cama, apoiando os meus braços nas minhas pernas dobradas e enterrei a cabeça no meio deles. Fiz um esforço enorme por me conter mas um soluçar crescente invadiu-me e as lágrimas começaram a escorrer-me pela face.
- Não houve nada que pudesse fazer.
Brad permanecia em pé, estático, em frente à porta do quarto, a olhar-me com um ar penoso que eu detestava. Anuí afirmativamente, tentando concentrar-me no que teria de fazer a partir daí, no que iria dizer quando todos começassem a questionar.
- Agora temos de combinar uma estratégia… Qualquer coisa para dizer aos media quando as perguntas começarem a surgir, o que não deve tardar.
- Não sei, Brad! – as palavras saíram-me estranguladas, como se doessem no meu interior – Tantos anos a tentar esconder e agora, assim, do nada, isto sabe-se…
- Calma – ele deu uns passos em frente e sentou-se ao meu lado – Vamos resolver isto.
- Como é que vamos resolver isto Brad? – as palavras precipitaram-se bruscas e violentas e uma raiva cresceu dentro de mim. Simplesmente detestava quando diziam que algo ia ficar bem quando nem sequer sabem o que é passar por uma situação parecida – Eu já tive o meu castigo! Era preciso isto agora? Agora que comecei a trabalhar a sério?
Quando dei por mim, olhava para ele com a boca a tremelicar por todos os lados e tentando conter o soluço que ameaçava irromper e levar-me ao choro compulsivo. Ele passou-me o braço por cima dos ombros, puxando-me para ele e com o braço contrário, afagou-me os cabelos num ritmo suave. Deixei-me levar e pousei a minha cabeça no seu ombro, dando liberdade ao meu choro de se soltar e durante uns instantes, fiquei assim, perdida em pensamentos e remorsos, chorando como um bebé.
- Pronto, acalma-te – ele apertou-me com mais força, deixando a mão pousada nos meus cabelos – Eu sei que custa mas as pessoas esquecem-se com facilidade.
Libertei-me do seu abraço quando finalmente me acalmei e limpei as lágrimas à manga do meu casaco, sentindo-me em melhores condições para falar sobre o assunto.
- Eu não fiz nada, Brad! Foi um acidente.
Ao ver que estava a vacilar novamente, ele pousou as mãos nas minhas têmporas, olhando-me fixamente e aproximando as nossas caras.
- Heidi! Chega! Sabias que isto um dia mais tarde ia acontecer. És conhecida agora, percebes? As pessoas querem saber mais e mais sobre ti!
Interiorizei o que ele me disse e muito a custo levantei-me, decidida a preparar o que deveria ser dito quando amanhã as revistas começassem a querer saber mais sobre o assunto.
- O que podemos dizer é a verdade.
Encolhi os ombros. Sempre tinha ouvido dizer que a mentira tem perna curta e por muito que se andasse às voltas, tentando contornar o assunto de forma a torna-lo menos chocante e menos culpabilizante, a verdade acabaria sempre por vir sempre ao de cima. Não havia túmulos nem segredos sagrados nesta cidade.
Ele anuiu.
- Não vais à gala, pois não?
Abanei a cabeça.
- Acho que vou enterrar-me na almofada e tentar dormir – ri-me, irónica – Há mais alguma coisa que possa fazer?
Ele levantou-se e encarou-me com um ar misterioso e incrivelmente charmoso.
- Anda, veste qualquer coisa e vamos a qualquer lado.
Senti-me bastante confusa naquele momento, pois ainda há pouco o tinha visto com aquela mulher no carro e apesar de este novo problema ter conseguido atenuar isso da minha memória, aquele episódio ainda estava bem presente.
- Pensei que tinhas uma namorada para acompanhar – tentei mostrar um pouco a meia veia de actriz, fingindo um sorriso de desinteresse, como se até estivesse contente com aquilo – Estou a ver que fizeste progressos.
Ele riu-se e pela forma como recuou e se voltou a sentar percebi que tinha ficado nervoso.
- Então? Podes contar-me.
- Heidi… - ele olhou-me como que procurando as palavras certas para falar – vais dizer que ficaste bem com isso?
Comecei a rir-me pois aquela pergunta tinha sido do mais perspicaz possível.
- Claro que fiquei – disse, tentando disfarçar as pequenas evidências de nervosismo que o meu corpo começava a demonstrar e, para tal, sentei-me na poltrona ao lado da cama, cruzando as pernas – Pensas o quê?
Ele olhou-me, com um sorriso ternurento que me derreteu por dentro. Como podia ele, com tantas qualidades e com uma beleza invejável daquelas, ter tão pouco carácter no que toca ao amor?
- Eu não penso nada – Levantou-se, ajeitando as calças – Sou apenas teu assessor de imprensa. É uma relação estritamente profissional. Acho que não te devo satisfações.
“Auchh!”, pensei para mim, à medida que percebi que talvez a minha abordagem não tivesse sido das melhores. Anuí afirmativamente, um pouco constrangida com a sua resposta mas tentei não transparecer isso. Onde é que andava com a cabeça para sequer ponderar a hipótese de poder vir a ter um caso com o meu assessor? Um sorriso delineou os meus lábios à medida que pensava na ilusão que tinha criado.
- O que foi? – perguntou ele, olhando confuso.
- Nada, nada – levantei-me do sofá, pronta a despedir-me dele – Então, quando quiseres marcamos uma reunião para delinearmos essa estratégia sim?
- Ahn? Então não queres ir a algum lado? Espairecer?
- Não, não, obrigada! Vou ficar por aqui.
Ele hesitou, à medida que eu o encaminhava para a porta de saída.
- Não queres que fique aqui contigo? Podíamos ver um filme ou qualquer coisa. Não estás em estado de ficar sozinha em casa.
- Não estou sozinha – abri a porta devagar, fazendo-lhe sinal para sair – Eu fico bem!
Ele passou a ombreira da porta, mas voltou-se para mim, apoiando-se na parede.
- Eu não quero o teu mal, tu sabes disso, não sabes?
Lá estava ele com aquele olhar ternurento novamente. Mantive a minha postura séria e inquebrável.
- Eu sei que não queres o meu mal. É óbvio que não queres o mal das tuas clientes!
- Tu não és uma cliente qualquer.
Aquela frase fez-me vacilar. Olhei para ele com atenção, fixando cada traço, desde os olhos até aos lábios. No entanto, qualquer coisa dentro de mim me repeliu daquele atracção física que estava a sentir e voltou a atirar para o meu consciente as palavras-chave “assessor” e “profissional”, que tinham andado baralhadas durante algum tempo.
- Bem, Brad, até amanhã!
Lancei-lhe um último olhar, à medida que fechava a porta e deslizava pela parede até ao chão, encolhendo-me num novelo, apoiando a cabeça nas pernas dobradas e deixando que a solidão e o sofrimento tomassem conta de mim. Achei que já nada de pior me podia acontecer.


Emma
Depois de passar por toda aquela euforia de flashs, tentei encontrar Brad ou até mesmo Nate, ou qualquer pessoa que soubesse alguma coisa de Heidi. Tinha tentado ligar-lhe incessantemente, mas como ela anda sempre de cabeça no ar, considerei normal o facto de ela não responder. Mas no entanto, já estava na hora de ir à gala e ela ainda não tinha chegado. Encontrei Nick no sítio combinado e, apesar de Heidi não estar ali, estávamos a seguir com aquele plano louco e sem sentido nenhum que ela tinha engendrado.
- Não sei onde é que ela está!
- Deve estar atrasada ou qualquer coisa do género. Já vi o irmão dela. Está sozinho.
“Sozinho?”, pensei. Onde estaria Katherine?
Ele estendeu-me a mão, que me apressei a agarrar e seguimos de mão dada até ao sítio onde ele achava estar Nate e onde estavam concentradas a maior parte das pessoas. Sabia que me ia arrepender daquilo mas deixei-me levar. Afinal de contas, só queria que ele e Heidi se entendessem de uma vez por todas.
- Como correu a saída? – não consegui conter o riso, já que tinha passado a tarde toda a pressiona-lo para que conhecesse melhor a rapariga.
- Correu bem. Ela deu-se bem com a Zoe. Amanhã já são melhores amigas, tendo em conta as raparigas de hoje em dia – e sorriu, sarcasticamente.
- Isso era bom!
Paramos assim que vimos Nate a conversar animadamente com Vanderbilt. Ele estava de costas mas mais tarde ou mais cedo havia de nos ver, já que não havia qualquer pessoa que lhe tapasse a visão.
- Isto não é boa ideia – fiquei repetindo – Vamos arrepender-nos disto.
Ele entrelaçou os braços à volta da minha cintura, olhando-me fixamente. Aquela situação só me dava vontade de rir.
- Só tens de olhar para mim e fingir que estamos a passar um bom bocado.
Ambos nos rimos com a figura ridícula que estávamos a fazer, apesar de confessar que Nick tinha um grande jeito para teatros. Nós sabíamos o que estávamos a fazer mas as pessoas de fora e principalmente Nate, quando se apercebeu, tenho a certeza que acreditaram neste esquema.
- Ele está a olhar – ele sussurrou-me ao ouvido.
Olhei para o sítio onde ele estava e quando percebi que ele estava a olhar na nossa direcção, acenei-lhe levemente, sem nunca tirar os braços enleados do pescoço de Nick. Ao receber o meu aceno, ele sorriu, caminhando na minha direcção.
- Ele vem aí – disse a Nick, que me largou.
- Vou buscar uma bebida, volto já. Não sejas desbocada!
Deu-me um beijo leve na bochecha e afastou-se dali. Nate veio cumprimentar-me.
- Então está tudo bem?
Acenei-lhe afirmativamente, não tendo sequer tempo para lhe colocar a mesma pergunta.
- Olha, tens estado com a Heidi? Nunca mais soube nada dela e ainda não a vi aqui hoje.
- Pois, ela era suposto vir mas provavelmente está atrasada.
- Tens estado muito com ela? – denotei alguma preocupação e carinho na sua voz. Dava para perceber a léguas que sentia saudades dela.
- Sim, tenho. Ela está bem, dentro do possível. Mas acho que devias falar com ela, ela precisa de ti.
Ele olhou para o lado, conformado, como que pensando no que devia fazer.
- Pois, se ela não vier, sou capaz de passar lá por casa.
- Sim, devias.
Fez-se um compasso de silêncio bastante constrangedor.
- Então, como estão a correr as coisas contigo? – perguntou, encarando-me.
- Bem, bem! Alguns trabalhos, mas nada de especial. E contigo? Alguma novidade?
Ele abanou a cabeça.
- Continuo o trabalhar no clube de vídeo e a escrever para o jornal… Vida monótona.
A forma nostálgica como disse aquilo fez-me sentir pena dele. Parecia que nem mesmo Katherine conseguia preencher a solidão que ia dentro dele.
- Então e a Katherine? – atrevi-me a perguntar, sabendo que não tinha nada a ver com o assunto, mas já que estávamos ali com aquela intenção, não valia de nada sair de lá sem uma informação certa.
- Hmmm… A Katherine? A Katherine teve uns trabalhos em Londres e ainda não voltou. Mas daqui a uns dias já deve cá estar.
Tentou divagar ao máximo mas eu percebi que ele não estava feliz com a situação.
- Ou então, provavelmente, não vai voltar mais – ele completou a frase que eu achei já estar acabada. Baixou a cabeça e suspirou, pondo as mãos nos bolsos e olhando de um lado para o outro.
Naquele momento, fiquei sem saber o que dizer. Estava ali, fingindo estar apaixonada pelo meu primo com o objectivo de fazer ciúmes ao irmão da minha melhor amiga que supostamente estava importado com a minha vida amorosa, quando na realidade, ele tinha muito mais com que se preocupar. Naquele momento senti-me ridícula e completamente infantil. Não fazia qualquer sentido estar a fazer aquilo e muito menos o fazia agora, estando ele ali, à minha frente, sozinho, mergulhado num desgosto imenso de ter sido abandonado pela segunda vez e sem ninguém que com quem falar.
- Nate, lamento imenso! – senti uma vontade enorme de o abraçar mas não achei isso correcto, estando ali o meu “namorado” a uns metros de distância.
- Ah, não te preocupes. Bem fui avisado – ele riu-se, assumindo o seu erro e dando-nos toda a razão, principalmente a Heidi, quando o alertamos para o facto de Katherine não ser flor que se cheire – Então e tu? Não sabia que tinhas um namorado.
Amaldiçoei Heidi por me estar a fazer passar por aquilo. E amaldiçoei-me a mim por ter alinhado naquela loucura. Logo eu, que era uma péssima mentirosa!
- Pois! – sorri nervosa e as minhas pernas começaram a não conseguir arranjar posição, sobrepondo-se uma à outra constantemente. Quem me conhecia, sabia que esse era o meu maior sinal de nervosismo.
- Mais novo que tu, ahn?
- A idade nunca foi um obstáculo para mim – e voltei a sorrir daquela forma denunciadora.
Ele anuiu, parecendo-me cem por cento convencido e voltámos ao silêncio constrangedor que eu tanto detestava. Fiz sinal a Nick, que nos olhava atentamente, para que voltasse mas ele recusou, vendo-me então obrigada a ser eu a juntar-me a ele.
- Bem, Nate, vou ter de ir – tentei desculpar-me ao máximo, mas a verdade é que não aguentava estar ali nem mais um segundo.
- Sim, sim, claro. Ele deve estar à tua espera – passei pela sua frente, despedindo-me com um olhar cordial mas algo me impediu de continuar – Emma? – olhei para ele, que me agarrava o braço suavemente – Se entretanto falares com a Heidi diz-lhe que preciso de falar com ela.
- Claro! – sorri-lhe uma última vez, virando costas e indo ao encontro de Nick, que bebia um martini e conversava com uma rapariga morena, que entretanto tinha aparecido e que eu imediatamente reconheci como sendo Agnés.
- Olá! – interpelei Agnés, cumprimentando-a – Não sabes nada da Heidi, pois não?
- Por acaso até sei. O meu irmão mandou-me mensagem a dizer que esteve com ela e que ela não vem mas disse também que as coisas não estavam bem.
Olhei para Nick com preocupação e ele, como que lendo o meu pensamento, fez sinal para ir ter com ela.
- Vai ver o que se passa! Aproveita e leva o Nate contigo.
Assenti e abracei-o levemente, em sinal de agradecimento pela compreensão.
- Vai lá ter com ele, vai! – ele colocou-me umas mechas de cabelo atrás da orelha – Este é o meu lado ciumento!
Piscou-me o olho e ambos nos desatamos a rir. Só mesmo Nick para estar de tão bom humor a uma hora daquelas.
- Vou pedir ao Nate para levarmos o carro dele, está aqui as chaves do meu. Depois leva a Agnés a casa – passei-lhe as chaves do carro e afastei-me deles, ainda dizendo em voz alta para se portarem bem.
Procurei Nate no mesmo sítio onde antes o tinha visto mas já não o vi. Dei uma volta inteira ao recinto, procurando-o em cada recanto mas nem sinal dele. Preparava-me para voltar para junto de Nick mas foi quando o vi sentado numas escadas de copo na mão a olhar o nada. Aproximei-me dele, com o coração a mil por ter de carregar nos ombros aquele fardo de mentira.


Nate
Vi-a aproximar-se de mim e o meu coração começou a bater a um ritmo frenético, não por estar nervoso mas porque aquela mulher, tão menina, mexia comigo daquela forma inexplicável. Mas também, agora, de nada valia, tendo em conta que ela estava apaixonada e claramente, não era por mim. Ela sentou-se ao meu lado, sem dizer uma palavra, olhando na mesma direcção que eu ao mesmo tempo que se tentava aquecer a ela própria, já que só trazia um vestidinho de cetim que em nada combatia o frio de Dezembro. Pousei a minha bebida no chão, ao meu lado, e desapertei o único botão do meu blazer preto, Hugo Boss por sinal, que Heidi me tinha oferecido o ano passado e que eu quase sempre usava em eventos do género. Despi-o e pousei-o nos ombros dela, voltando depois a beber um gole do meu martini gelado.
- Então, onde está o teu namorado?
- Nate… - ela hesitou como se fosse fazer uma confissão e depois tivesse pensado melhor – Nate, a Heidi não vem hoje e por aquilo que o Brad disse à irmã dele, alguma coisa não está bem.
- O que é que não está bem? Passou-se alguma coisa com ela? – estava preocupado mas tentei ao máximo não parecer exaltado na iminência de lhe poder ter acontecido alguma coisa de mal.
- Não sei, não sei. Por isso é que vim ter contigo, para irmos ter com ela.
Levantei-me prontamente, tirando a chave do carro do bolso das calças e encaminhando-me para a saída. Ouvi os seus passos atrás de mim mas fingi não prestar atenção. Desci as escadas até ao carro, onde entrei seguida por ela, do lado do pendura.
- Então e o teu namorado?
Ela pareceu-me atrapalhada e o tempo que demorou a responder fez-me pensar que talvez ela estivesse a pensar numa desculpa.
- Podemos não falar sobre isso? – foi tudo o que foi capaz de dizer, esboçando um sorriso atrapalhado.
Liguei a ignição e iniciei o caminho de carro até casa de Heidi, mas nem por uma única vez Emma saiu da minha cabeça, mesmo com aquele silêncio constrangedor que se instalou. Não sabia se era por causa de Katherine me ter deixado novamente e o que apenas precisava era de consolo ou se Emma era realmente o que eu precisava. Mas como não há nada sem senão, ela agora estava comprometida e como tal, já tinha chegado tarde demais. Parei o carro em frente à vivenda, sem qualquer problema que o meu pai ou Irina ouvissem o barulho. Subi as escadas, sempre seguido de Emma e depois novamente o outro laço lateral de forma a entrar directamente no piso superior. Sabia que a porta estava destrancada e abri-a lentamente, abrandado o passo e caminhando calmamente até ao quarto dela. Preparava-me para bater à porta mas tal não foi preciso porque no preciso instante em que levantava a mão para bater, Heidi abriu a porta e saltou nos meus braços, com a cara em lágrimas e um aspecto desolado. Apertei-a com todas as minhas forças e afaguei-lhe os cabelos desgrenhados e estáticos, por terem sido secados manualmente, fazendo sons ao ouvido que pudessem acalmar aquele choro compulsivo que ela tinha acabado de iniciar. Emma olhava-nos, encostada à parede, também ela preocupada e também ela sem saber o que dizer ou sequer por onde começar. Há uns dias que não falava com Heidi, o que para mim tinha sido uma eternidade e agora, depois de todos os seus avisos e repreensões e depois de, mais uma vez, ela ter saído com razão, sentia-me envergonhado por ter de admitir a minha extrema habilidade para ser enganado.
- Shhh… - tentei afastar-me um pouco dela de forma a poder olhar-lhe a cara, que ela tinha enterrado no meu ombro – O que é que se passa?
Quando ela finalmente me deu espaço, afastei com calma os fios de cabelo que estavam enleados e colados à sua cara molhada e salgada, pondo-os atrás da orelha e arrastei-a para a cama, onde a sentei ao meu lado e a envolvi nos meus braços.
- O que se passa?
- Nate! Desculpa! – ela olhou-me nos olhos e pude notar que estava a ser tão sincera quanto lhe era possível – Eu só quero que sejas feliz.
- Pronto, depois falamos sobre isso – fiz sinal a Emma, que permanecia encostada à porta para que se sentasse ao meu lado – agora conta-me o que se passou contigo.
Ela recompôs-se e quando já estava visivelmente mais calma, começou a contar o que aconteceu, desde o que aconteceu com Brad, dando logo a entender que havia ali mais qualquer coisa, até à notícia da descoberta do seu envolvimento na morte de Dwayne Johnson, sendo assim o que mais a afectou. Eu sabia da história, sabia exactamente do que tinha acontecido e a parte que ela tinha tido na tragédia, apesar de ninguém acreditar que fosse tão irrelevante como ela contava. Mas eu confiava e acreditava nela acima de tudo e, embora fossem umas crianças na altura, as coisas teriam sido bem diferentes se tudo tivesse dependido dela.
- E agora a minha carreira vai por água abaixo! Ninguém quer trabalhar com uma assassina! – ela estava prestes a cair outra vez no choro compulsivo.
- Calma Heidi. É por isso que tens um assessor, certo? Agora tens de falar com ele e decidir o que vais dizer. Certamente vais ser abordada para falar sobre o assunto.
- E tu só tens de dizer a verdade – Emma falou pela primeira vez desde que tínhamos entrado ali. Ela sabia da história por alto porque Heidi nunca tinha falado muito sobre isso.
- Tu já tiveste o teu castigo, isso já foi há uns anos atrás… Não te vão crucificar outra vez! – tentei acalma-la o máximo que pude mas Heidi tinha tendência a dramatizar as coisas de uma forma extremamente exagerada. Não que aquilo não fosse motivo mas era coisa de pouca dura porque dali a um mês já ninguém se iria lembrar.
Fomos interrompidos pelos passos de alguém no corredor, aproximando-se cada vez mais do quarto.
- Deve ser a minha mãe – ela limpou as lágrimas com as mangas do casaco e esperamos em silêncio que essa pessoa entrasse.
Uma figura alta, magra, com a barba feita e o cabelo cortado irrompeu pelo quarto entreaberto, olhando-nos.
- Pai! – Heidi pareceu surpreendida – Passa-se alguma coisa?
- Vim só ver como estavas, já que comeste tão pouco ao jantar… Está tudo bem?
Ele olhou-me e quase fingiu que não me viu, ignorando completamente a minha presença como se eu fosse invisível. Não era algo a que já não estivesse habituado mas ainda doía com a mesma intensidade do inicio. Como podia um pai ignorar daquela forma um filho que apenas quis outras coisas que aquelas que eram, supostamente, aceites pela família?! Era algo que me perguntava a mim próprio dia após dia.
- O Nate está aqui pai, não sei se já reparou!
Heidi tinha sempre de fazer aquilo! Como me irritava o facto de ela ser tão intrometida… Ele olhou para mim e estendeu-me a mão, apanhando-me completamente de surpresa. Hesitei em apertar-lha mas acabei por o fazer, mais por uma questão de respeito do que por uma questão de cordialidade.
- Como estás Nate? – a sua voz grossa e austera quando mencionou aquela pergunta banal fez-me estremecer. Mas no entanto, aquilo era muito mais que aquilo que podia exigir dele.
- Óptimo e o pai? – encarei-o por uma fracção de segundos e rapidamente voltei a desviar o olhar.
- Vai-se andando…
Assenti e ele voltou a dirigir-se a Heidi.
- Não me lembro de termos aberto a porta aos teus amigos! – acenou a Emma, algo que ainda não tinha feito.
- Eles entraram por esta porta. E o Nate não é meu amigo, é meu irmão, seu filho. Não percebo porque é que o trata como se ele não lhe fosse nada! – O tom de acusação de Heidi mexeu com o interior dele, pois ele retirou-se visivelmente perturbado, deixando a porta escancarada com a sua passagem.
Senti-me particularmente nostálgico naquele instante, lembrando-me de momentos da minha infância dos quais ainda tinha memória e nos quais tinha sido tão feliz ao lado daquele homem que agora nem sequer agia como meu pai. Instalou-se o silêncio no quarto, apenas interrompido depois de Heidi cair no sono, tal o cansaço do choque.
- Então o Brad já lhe deu a volta à cabeça… - constatei com Emma.
- Eu já sabia que isso ia acontecer. Mas depois do que aconteceu hoje duvido que a Heidi volte a cair no mesmo.
- É, eu também espero que não, senão ia ser um problema.
Ela levantou-se, ajeitando o vestido e o cabelo.
- Vamos? – ela pareceu-me cansada e com sono.
- Sim, claro – beijei Heidi na testa e tapei-a com um cobertor polar que ela tinha a enfeitar a cama. Apaguei as luzes, olhando-a mais uma vez antes de sair e desejando poder partilhar com ela aquele sofrimento que ela tanto se tinha esforçado por reprimir. Saímos novamente em silêncio, desta vez mais calmos mas bem mais pesados do que quando tínhamos entrado. É isso que acontece quando algo de mal acontece com pessoas que amamos e com as quais nos importamos: somos sempre invadidos pelos seus problemas e estamos sempre receptivos a partilha-los. Levei Emma até casa, estacionando o carro em frente ao seu prédio.
- Cá estamos.
Pensei que ela estava ressentida com o que se tinha passado com Heidi mas tal foi o meu espanto quando a vi com lágrimas rasas a olhar na minha direcção.
- Nate? Eu preciso mesmo de te contar uma coisa.
Virei-me para ela, disposto a ouvi-la com a maior das atenções.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Capítulo 8 - Segredo descoberto

Emma
- Nem penses nisso Heidi! Está expressamente proibido!
- Oh vá lá, não te custa nada. Aposto que o Nick alinha nisso.
Ele estava sentado ao meu lado e deu-me um toque leve no braço, incentivando-me a alinhar na loucura de Heidi, que a cada dia piorava mais.
- Não vou com o Nick à gala como se estivéssemos comprometidos, nem pensar!
- Oh Emma! – Ela cravou um olhar suplicante em Nick, como que implorando para que ele a ajudasse.
- Sim, Emma, quer dizer, nós não nos vamos beijar nem nada do género…
- Sim e vocês nunca lhe vão dizer explicitamente que namoram…
Olhei-a exaurida.
- Isso nunca podia acontecer, porque nós não namoramos! É uma loucura o que me estás a pedir. Eu não vou fingir que namoro com o meu primo só porque o Nate pensa que isso é verdade.
- Olha, Emma, nós já falamos sobre isso! – Pela forma desesperada como ela falava percebi que estava a ficar sem recursos que me pudessem convencer – O Nate não ia mandar aquela mensagem se isso não o tivesse incomodado! Significa que tu significas algo mais para ele que aquilo que aparentava, certo? Eu conheço-o, ele é a pessoa mais óbvia do mundo. Assim como tu! Estás aí sentada a fazer-te de difícil mas no fundo eu sei que tu queres tanto como eu vê-lo longe daquela cobra. Estou errada? E sabes porque é que tu queres isso? Porque eu sei que tu, bem lá no fundo e embora o tentes esconder, tu também te sentes bastante incomodada. E não mintas! Não ouses mentir-me.
Encarei-a, perplexa, enquanto ela inspirava depois daquele discurso profundo e intimidador. Invejava a forma como ela conseguia descodificar as coisas daquela forma e como tinha acertado em cheio no meu ponto fraco. Eu não gostava que eles estivessem juntos mas também quem era eu para ter algum voto de matéria naquele assunto? Uma amiga recente que, inocentemente tinha confundido amizade com algo mais. Ok, essa era eu, definitivamente.
- Ok, eu alinho! – ela levantou-se da cadeira em frente ao sofá e jogou-se no meu colo, abraçando-me – Mas não volto a fazê-lo, Heidi.
- Vocês vão ser o melhor casal falso de todos os tempos. – disse, extasiada, à medida que festejava com Nick e me apertava com força.
- Pronto, pronto, pronto – empurrei-a de forma a que saísse do meu colo e levantei-me, ajeitando as minhas calças de cabedal que tinham ficado amarrotadas com o salto de Heidi – Queres ir às compras hoje? Ou tens alguma coisa combinada com o teu assessor de imprensa colorido?
- Ah ah ah ah ah – fingiu rir-se, revirando os olhos – Tens uma piada! Não, hoje não tenho nada combinado com ele, mas tenho com a irmã dele! Meia-irmã aliás.
Olhei-a divertida.
- Uau, até já conheces a família!
- Cala-te Emma! Não faças esse tipo de insinuações. Ele conheceu-a ontem, está bem? Ele sabia que ela existia mas nunca a tinha conhecido. E agora quer que ela vá à gala hoje à noite…
- Ah desculpa, nunca me tinhas contado isso!
- Pois, ele também só me disse há uns dias atrás. Fiquei de ir com ela escolher o vestido hoje à tarde. Espero que não te importes.
Abanei a cabeça. Não me fazia qualquer tipo de diferença que a rapariga viesse connosco, apesar de não gostar muito da amizade que Heidi estava a desenvolver com Brad, tendo em conta o seu repertório de mulherengo, no entanto, a rapariga nada tinha a ver com o assunto.
- Ela tem quase a idade do Nick – acho que pela primeira vez, Nick tomou realmente atenção à conversa, tirando por uns minutos os olhos da televisão que passava um jogo de futebol americano – Acho que é uns anos mais nova.
- Quem? – perguntou ele, olhando para nós alternadamente.
- A irmã de um amigo da Heidi. Vem connosco às compras – tentei motivá-lo com o facto de ele ir conhecer alguém novo para além dos seus amigos boémios – Vens connosco, certo?
- Não sei… - a sua voz não denotava nem um pouco de entusiasmo – Ela é gira?
Olhei para Heidi e depois ambas olhamos para ele, desatando à gargalhada.
- Tão típico! – Heidi abanou a cabeça ao mesmo tempo que ria – Não sei, nunca a vi. Mas o Brad disse-me que não têm nada a ver um com o outro, que são completamente opostos.
- E esse tal de Brad, é alguma coisa de jeito? Se for e a irmã é completamente o oposto então nem pensem. Nem pensem que vou aturar uma tarde de compras e histerismo sem nada para me entreter.
Abanei a cabeça, sem conter o sorriso mas no entanto, espero que aquilo tenha servido como um sinal de repreensão. Num mundo materialista e superficial como o actual era um enorme erro julgarmos as pessoas apenas pela aparência.
- Vá, vamos lá! – fiz sinal para Heidi, que pegou na sua mala e seguiu-me até à porta – Tu não vens, não é?
- Vou, vou – foi com muito esforço que ele desligou a televisão mas não sem antes observar expectante uma jogada promissora - Como é que este gajo falha isto?!
- Nick! – Chamamo-lo em uníssono, fazendo-o apressar-se e correr para a porta.

Nick
Mandei mensagem a Zoe, uma amiga que tinha em Tribeca e que nunca mais tinha visto, enquanto íamos no carro. Emma e Heidi não se calavam e eu era completamente desinteressado por conversas de mulheres, como tal, tinha de arranjar algo para me entreter. Estacionámos o carro perto do Central Park e descemos a pé as ruas paralelas, organizadas no típico traçado moderno. Esperámos pela irmã do amigo de Heidi perto de um café irlandês na esquina para a Quinta Avenida, onde elas iam passar horas a entrar de loja em loja, a babarem-se para os vestidos das montras e a gastar dinheiro em coisas completamente desnecessárias.
- Olha, ela vem ali – Heidi interrompeu a conversa sobre cosméticos que ela e Emma estavam a ter e apontou sorrateiramente para uma rapariga morena que se aproximava de nós.
Quando percebi que aquela era a irmã do amigo dela, confesso que fiquei um pouco desiludido. Considerei que o aposto seria uma rapariga loira, alta, com traços suaves e bem constituída. Não que aquela não fosse bem constituída, mas eu não era apreciador de morenas e raramente elas me chamavam a atenção – e ela não podia ser mais morena que aquilo! Tinha um cabelo longo liso, preto e, apesar de vir bem vestida num misto de bom gosto e descontracção, havia qualquer coisa nela que eu não gostava. Sempre tinha sido assim, definia os meus gostos em relação a uma pessoa logo à primeira vista.
- Olá Agnés! – Heidi cumprimentou-a num emaranhado de abraço e beijo. Calculei logo que esse fosse o típico cumprimento em Nova Iorque.
A rapariga, aparentemente tímida retribuiu o cumprimento, dizendo quase num som inaudível “está tudo bem?”, uma pergunta retórica, penso eu, já que imediatamente ela se virou para Emma, dando-lhe apenas um beijo na face e depois vindo directa a mim, que me deixei ficar no meu canto, encostado à parede e de mãos nos bolsos. Penso que ela ficou indecisa se haveria de me dar um aperto de mão ou um beijo mas eu acabei por dar-lhe sinal de que a segunda opção era a mais indicada. Cumprimentamo-nos e ela logo voltou para junto de Heidi. Afinal, era ela que queria conhecer e era dela que tinha ouvido falar, logo era normal que tudo fosse muito mais formal junto dela.
- A Heidi nem nos apresentou nem nada – constatei com Emma, que seguia a meu lado atrás delas duas.
- A Heidi já lhe tinha falado de nós e dito os nossos nomes. A rapariga não é dessas formalidades, ela não está habituada a estas coisas. Não se viu logo?
- Então mas ela não é de cá?
- Ela é israelita, por aquilo que a Heidi me disse mas há algum tempo que vive em Londres com o pai e a mãe do amigo da Heidi. Mudaram-se para aqui há pouco tempo.
- Bem me parecia – retorqui, olhando em volta para o rebuliço da 5ª Avenida.
- Gira ela, não é? – Emma deu-me um toque no braço, com ar brincalhão mas mantive a minha postura séria pois já sabia onde ela queria chegar – Era boa para ti.
- Achaste? Não tem nada a ver comigo – sabia que Emma ia continuar a armar-se em cupido mas a verdade é que estava ali só para passar o natal e pretendia regressar à Austrália no inicio do novo ano, como tal, qualquer relacionamento estava fora de questão… Até porque tinha deixado uma amiga colorida no outro lado do oceano – É bom que pares com isso, senão dou meia volta e vou-me embora!
Ela riu-se, recolhendo-se no seu canto. Heidi voltou-se para trás naquele momento e fez sinal para que entrasse na Barney’s, uma loja que eu sabia, não por conhecimento próprio mas pela conversa que elas tiveram no carro, vender várias marcas. Fiz sinal a Emma que ficava cá fora à espera enquanto elas entraram tão entusiasmadas como se fossem ao cinema. Encostei-me à montra da loja, enquanto via as pessoas passarem cheias de sacos, quase sem se poderem mexer, de um lado para o outro, numa correria constante. Nova Iorque era mesmo de loucos. Os meus pensamentos foram interrompidos pelo vibrar do meu telemóvel e foi quando vi que Zoe já me tinha respondido.
“Hello, hello desaparecido! Por onde andas? Ando cheia de trabalho, provavelmente só mais logo à noite é que nos vamos poder encontrar. Até logo. Zoe.”
Alardeei, desanimado. Podia ligar ao James ou ao Jeffrey para irmos beber um copo mas ainda ontem tinha estado com eles e não queria parecer uma “menina”. Talvez lhes mandasse mensagem mais logo para virem beber um copo, apesar de saber que James e Zoe não eram propriamente os melhores amigos, mas isso eram problemas existenciais facilmente solucionáveis. Elas saíram da loja, sem terem comprado nada e foi assim a tarde toda. Entravam, saiam, entravam, saiam… ao final do dia já só via sacos e mais sacos e à medida que as pessoas enchiam a Avenida já havia trânsito de sacos por todo o lado.
- Comprei-te um presente! – Emma passou-me um embrulho da Hugo Boss enquanto caminhávamos de regresso para o carro.
“Mais um saco para carregar”, pensei, ao mesmo tempo que a envolvia nos meus braços e lhe beijava o alto da cabeça, em sinal de agradecimento.
Entramos finalmente no carro, deixando as compras todas na bagageira e seguimos caminho até ao Upper East Side, para deixarmos Agnés em casa.
- Hoje à noite vou beber um copo com uns colegas antes de ir à gala.
Heidi e Emma entreolharam-se.
- Ai sim? – Emma olhou para trás, tanto para mim como para Agnés em simultâneo.
- Hmmm, Nick? – Heidi olhou para mim através do espelho retrovisor – Podias levar a Agnés contigo?
- Eu? – Agnés olhou para o espelho, embaraçada.
- Sim, querida e assim conhecias outras pessoas. Nunca ouviste dizer que Nova Iorque pode ser muito solitária por vezes? Era bom fazeres amigos.
Senti-me envergonhado com aquilo tudo embora tentasse não o demonstrar. Emma olhou para mim, triunfante e eu acabei por me render. Claro que não ia ser desagradável ao pé da rapariga.
- Claro! – encarei-a e percebi que fazia um esforço enorme para não me olhar, tal era o seu estado de embaraço – Vou buscar-te às nove e depois vestes-te em casa da Emma.
Ela limitou-se a anuir. Emma e Heidi mandaram risinhos, tal discretas que elas eram e permanecemos em silêncio o resto da viagem, até chegarmos ao Upper East Side.

Heidi
Fiz o cruzamento para estacionar em frente ao prédio de Agnés, seguindo as indicações dela e tal foi o meu susto quando logo depois da curva um carro estava estacionado na estrada e por pouco não embati nele. Travei a fundo, fazendo eles lá atrás, que não levavam cinto, precipitarem-se com violência contra os bancos da frente. Joguei imediatamente as mãos ao centro do meu volante e apitei com força, repetidamente, dizendo impropérios a alto e bom som, caso os proprietários do carro ou quem quer que seja que o tivesse estacionado ali pudessem ouvir.
- Está tudo bem aí atrás? – perguntei, enquanto tentava virar o carro de forma a circundar o veículo mal estacionado – Isto é preciso ter uma lata!
Assim que o ultrapassei, encostei o meu carro ao passeio, a uns bons metros de um carro que estava mais à frente. Ao inicio não lhe prestei qualquer tipo de atenção mas enquanto Emma e Agnés terminavam a sua conversa sobre Israel, foquei a minha concentração naquele carro azul escuro de marca Mazda, com duas pessoas lá dentro que não paravam de se beijar e de se abraçar. Achei aquilo algo impróprio para se fazer dentro de um carro àquela hora, tendo em conta que não estavam a ser nada subtis e desviei o meu olhar, revirando os olhos.
- Bem, Heidi – a voz doce e aguda de Agnés fez-se ouvir no carro – Obrigado por tudo!
- De nada querida – fiz-lhe o melhor sorriso que consegui, antes de voltar a olhar para o carro da frente e ver sair de lá de dentro a pessoa que menos esperava… Brad!
O meu olhar fixo chamou a atenção deles três, que rapidamente também fixaram o olhar para perceber o que se estava a passar.
- Olha, o meu irmão…
Emma não disse nada. Ela, certamente também tinha reparado no mesmo que eu e percebeu, pela minha expressão de desconforto, que aquela não era uma boa altura. Senti as minhas maças do rosto ficarem vermelhas, à medida que tentava a todo o custo controlar aquele mal estar que subia pela minha espinha e que ameaçava sair cá para fora. Agnés saiu do carro, não sem antes dizer adeus a todos e encaminhou-se para o pé do irmão, que já tinha dado pela nossa presença. Viu-o aproximar-se do carro mas houve algo em mim que me impulsionou a pegar a fundo e arrancar, antes que ele pudesse sequer aproximar-se. Pelo retrovisor vi a sua cara de surpresa e confusão enquanto acompanhava a trajectória do carro até eu virar a esquina e desaparecer do seu ângulo de visão.
- Heidi? – a voz de preocupação de Emma irritou-me e rapidamente liguei o rádio, pondo a música quase no volume máximo.

Agnés
- O que é que foi isto? – perguntei a Brad, que continuava a olhar para a rua, completamente estupefacto.
- Provavelmente não me viu – tentou disfarçar mas só alguém minimamente burro acreditaria que ela não o tinha visto.
Encolhi os braços e entrei no prédio, seguida por ele. Confesso que o facto de ele estar mais perto da família me fazia sentir realizada, já que sempre quis ter um irmão, alguém com quem pudesse partilhar os meus problemas, sem ter de ouvir os conselhos conservadores dos meus pais.
- Compraste o vestido?
Anuí.
- A Heidi ajudou-me. Eu gostei dela, sabes?
Ele sorriu, baixando a cabeça.
- É, ela é uma pessoa encantadora.
- E aquela? É a tua namorada?
Subíamos os degraus a passo lento, um por um. Eu seguia mais à frente com ele atrás de mim, com os sacos.
- Não. É uma amiga.
Anuí com a cabeça, pouco convencida. Os carinhos que eles tinham trocado não me pareciam ser de amizade, ao menos eu nunca tinha visto tal coisa. De qualquer maneira, Brad era uma pessoa de pouca conversa.
Tirei a chave da mala e rodei-a na fechadura, entrando em casa que cheirava a alfazema e estava limpa e arrumada. A minha mãe estava sentada no sofá e assim que nos viu chegar, pousou a revista que estava a ler e veio ao nosso encontro, envolvendo-nos aos dois num abraço.
- Ai querida, estava a ver que nunca mais! – beijou-me, preocupada.
Contive-me para não fazer uma careta feia. Estas preocupações desnecessárias da minha mãe deixavam-me extremamente chateada. Eu já tinha vinte anos e ela continuava a fazer os mesmos dramas do que quando eu tinha dez. Entrei no meu quarto e pus os sacos em cima da cama, voltando depois para a sala, onde eles conversavam no sofá. Durante uns instantes, pensei numa forma de dizer à minha mãe que tinha sido indirectamente convidada para ir beber um copo com um rapaz, amigo da amiga do meu irmão. Bem sabia o que ela me ia dizer e o filme que ia fazer, mas queria aproveitar que Brad estava ali e talvez ele pudesse ajudar-me a persuadi-la.
- Mãe? – ambos olharam para mim, interrompendo a conversa que estavam a ter.
- Diz amor – os seus olhos brilhavam e percebi como estava feliz com a reaproximação de Brad.
- Hmmm… - Bloqueei durante um momento, procurando na minha cabeça as palavras indicadas – Um amigo de uma amiga da amiga do Brad – Não consegui evitar um riso tímido com a anáfora que tinha acabado de fazer – esse rapaz convidou-me para ir beber um copo com os amigos dele, esta noite, antes da gala.
Olhei expectante, tanto para um como para outro, como se tivesse um tambor a rufar dentro de mim, desesperado por saber uma resposta.
- E tu disseste que não, certo?
A forma como ela sorriu, julgando-se plena sabedora da minha personalidade e com plena confiança de que sabia que eu tinha recusado, deixou-me nervosa mas também só aumentou dentro de mim o ódio crescente por aquele controlo desmedido.
- Eu aceitei mãe!
Ela levou a mão ao peito, preparando-se para começar a disparar em todas as direcções mas Brad saiu em meu auxílio, interrompendo-a.
- Fizeste bem! – disse, mantendo-se calmo e sereno, olhando para mim e depois olhando para ela, que mantinha os olhos esbugalhados e as mãos no peito – Mãe, deixa-a sair. Ela não conhece ninguém, está aqui sozinha, sem nada para fazer, sem conhecer ninguém… É só uma saída. Depois eu mesmo a trago a casa. Que tal?
- NÃO! – ela lançou-nos um último olhar, antes de se levantar bruscamente e arrastar os pés até à cozinha.
Enterrei a minha cabeça na almofada, tal era a minha frustração. Não conseguia acreditar que a minha mãe ainda fosse tão controladora em relação à minha vida privada. Senti umas lágrimas aflorarem-me aos olhos, tal era o meu estado de vergonha mas consegui conter-me.
- Brad, podes mandar uma mensagem à tua amiga para ela avisar a amiga dela que eu não vou?
Ele anuiu, ainda um pouco perplexo ao perceber o controlo que a minha mãe exercia sobre mim. Levantou-se e foi para junto da janela. Permaneceu em pé, a olhar a rua, durante uns instantes, mas acabou por voltar a sentar-se no sofá, encolhendo os ombros como sinal de não ter tido qualquer resposta.
- Ela não atende, não sei o que passa – ele estava visivelmente pensativo como se remoesse na sua consciência alguma coisa de errado que tivesse feito e que tivesse provocado aquela reacção da parte dela.
Foi nessa altura que eu percebi, como se uma luz se acendesse na minha cabeça, que aquela amizade poderia ser bem mais que isso. A minha mãe já me tinha avisado sobre o carácter mulherengo do meu irmão e, apesar de não achar isso correcto, aquela mulher com quem ele estava no carro tinha sido a única que alguma vez tinha visto com ele e como tal não associei que o facto de Heidi ter arrancado com o carro daquela maneira tivesse algo a ver com aquele episódio.
- Pois, provavelmente tens coisas mal resolvidas com ela!
Ele riu-se, irónico.
- Achas? Eu e a Heidi somos só amigos, não metas coisas na tua cabecinha.
Anuí, muito pouco conformada, mas também não ia bater mais no assunto, até porque sabia que ele não era muito de falar, apesar de o conhecer pessoalmente há apenas três dias.
- Vou falar com a mãe – ele levantou-se, encaminhando-se para a cozinha – Não tarda o rapaz está aqui.
Encolhi os ombros, sem qualquer esperança. Ele bem podia falar que eu sabia que ela não ia ceder. Fui até ao meu quarto e comecei a tirar dos sacos a roupa que tinha comprado. Uns sapatos novos, um cachecol, umas calças de ganga e o vestido que iria levar naquela noite. Não tinha muito dinheiro e como tal optei por um vestido nude simples, da Moschino. Emma e Heidi tinham adorado e como era a minha primeira vez e elas eram veteranas naquelas andanças, segui o seu conselho. Pendurava o vestido direitinho no meu guarda-vestidos quando Brad bateu à porta, entrando logo de seguida.
- Já falei com a mãe.
Sentei-me à beira da cama, à espera de uma sentença quase certa. Não é que eu quisesse ir porque sabia que me ia sentir muito desconfortável mas o facto de poder conhecer pessoas novas deixava-me extremamente feliz, tendo em conta que vivia praticamente sozinha numa cidade tão grande.
- Podes ir!
A forma repentina como ele disse aquilo, fez o meu coração disparar a mil. Não sabia se havia de ficar séria ou desatar aos pulos mas o facto de a minha mãe ter cedido já significou uma grande vitória para mim. Afinal, aquela situação teria de se alterar, mais tarde ou mais cedo.
- A sério? – esbocei um sorriso sincero – Bem, então acho que me vou começar a vestir.
- Queres que leve o vestido no carro até casa da Emma para não se amarrotar?
- Sabes onde é a casa dela?
- Não, mas de qualquer maneira, preciso de passar por casa da Heidi, tenho assuntos profissionais para resolver com ela e deixava lá e depois ela levava.
Entreguei-lhe o vestido preso no cabide e pedi-lhe que tomasse o máximo de cuidado com ele. Disse-lhe um obrigado sincero que, embora não parecesse tão entusiasta, tinha significado muito para mim.


Brad
Cheguei a casa de Heidi num instante. Tinha recebido uma chamada enquanto estava em casa da minha mãe que me tinha deixado seriamente perturbado e o que quer que seja que a tivesse deixado naquele estado há bocado, teria de ser deixado de parte porque aquela situação era bem mais importante. Sabia, porque ela já me tinha dito em conversas casuais, que havia umas escadas laterais que davam acesso à parte de cima da sua casa e era lá onde ela se encontrava quase sempre, exceptuando as horas de refeições. Decidi tentar a minha sorte e caso ela não estivesse lá, voltaria a descer e entraria pela porta principal. Subi as escadas, pé-ante-pé, tentando passar despercebido e quando cheguei lá acima, rodei a maçaneta da porta, não porque sabia que ela estava aberta mas por uma questão de hábito. Mas a verdade é que a porta estava aberta. Olhei em volta antes de entrar, certificando-me de que ninguém estava por perto. O corredor era estreito, com portas de um lado e do outro, abrindo-se uns 3 metros à frente e dando para um salão mas amplo. Se só houvesse uma porta, saberia qual era o quarto dela, mas com duas portas de um lado e de outro, tornou-se difícil perceber. Foi então que ouvi, na segunda porta do lado esquerdo, um cantarolar subtil e percebi imediatamente que era ela. Bati duas vezes à porta e quando ouvi o seu “Quem é?”, entrei rapidamente, para não correr o risco de alguém me ver ali.
- Oh meu Deus, Brad! O que é que estás a fazer aqui?
Ela tinha o cabelo desgrenhado, com uma pequena franja que calculei ter feito há pouco tempo e estava enrolada no seu casaco, com umas olheiras de meter medo. Aquele estado lastimável deixou-me confuso porque não queria deixa-la pior com aquilo que lhe ia contar mas conhecendo-a como o conhecia e sabendo que esse conhecimento era o suficiente, sabia que ela ia ficar de rastos.
- Como é que entraste aqui?
Olhei em redor, para o quarto dela. Era amplo e espaçoso mas considerei ser um pouco rústico para o meu gosto. Estava decorado em tons claros com uma madeira escura contrastante e as velas pretas aqui e ali davam um ar antigo à divisão. Não sabia que ela gostava de antiguidades.
- Precisava de falar contigo.
- Pois, mas agora não é uma boa altura. – a brusquidão com ela me respondeu fez-me vacilar.
- São assuntos profissionais. – tentei manter a compostura séria, tal como devia ser.
Ela percebeu que o assunto era sério e sentou-se na cama, sem dizer mais nada, esperando que eu continuasse. Senti uma vontade imensa de lhe perguntar o que se passava, se ela tinha estado a chorar, se era por causa de Nate ou algo do género mas acabei por me conter, lembrando-me que estava ali como seu assessor de imprensa e não como seu amigo.
- Heidi… - ela olhava-me fixamente, como se esperasse uma declaração – Já descobriram que estiveste envolvida na morte de Dawyne Johnson em 2007.

Maria
- Quero agradecer às meninas que têm comentado a minha história. Têm sido um grande incentivo :)